(Antes de começar, vale a explicação, este artigo foi publicado no dia 24/03/2015 no Blog da querida Débora Longen e eu sempre quis homenageá-la publicando novamente este artigo, pois ela depois acabou, através deste artigo, me indicando para escrever em um portal, o Torcedores.com)
Olá a todos.
Bom, resolvi vir aqui e escrever um
pouco, e estive pensando no que escrever, em qual tema? Alguma corrida? Alguma
equipe? Alguma “treta”?
A resposta não demorou muito a vir em
minha mente, pois como estou assistindo corridas antigas de Fórmula 1 e assisti
a temporada “título” desta coluna, pensei com meus botões: “Lauda em 1984”.
Ora, mas por quê? Quais as razões? Não
vai falar de Senna?
Decidi escrever sobre essa temporada,
pois foi a que terminei de ver, e por ter sido o tri de Lauda, “the computer
man”.
O panorama era o seguinte:
A Mclaren vinha com seus novos motores
“Tag Porsche” que estrearam em 1983 em Zandvoort (assim como a Williams fez com
os motores Honda), para no ano seguinte estar tudo prontinho, e assim o foi,
pois desde o começo da temporada, se via que os carros de Ron Dennis eram os
melhores, seja pelo motor, seja pela parte tecnológica, seja pela aerodinâmica,
seja pelo conjunto da obra.
Para o austríaco seria uma temporada em
que teria um novo companheiro de equipe. Alain Prost saiu da Renault e se mudou
pra Inglaterra. Se sabia que o francês era muito veloz, mas ao mesmo tempo era
azarado que só, pois vinha de dois vices campeonatos seguidos. O de 1982 em que
Keke Rosberg foi o campeão vencendo apenas uma corrida (Suíça) e em 1983, onde
também tinha o carro mais rápido, mas Nelson Piquet, da Brabham, foi bicampeão
em um final de temporada cirúrgico.
Vamos lá, vamos começar a destrinchar
esta temporada, para vermos como Lauda conseguiu o seu tri-campeonato.
Na primeira prova do ano, em
Jacarepaguá, Elio de Angelis, da Lotus, foi o pole, Prost largou em quarto e
Lauda em sexto.
Disputada sobre um calor terrível, um a
um os carros foram apresentando problemas, até que Prost conquistou 9 pontos,
já Lauda teve problemas, mas isso mudaria em Kyalami.
Em termos de traçado, eram parecidos os
circuitos da África do Sul e o que se corria aqui no Brasil, o de Jacarepaguá.
Trechos de alta velocidade, um circuito desafiador para motores, ou seja, mais
uma corrida de resistência, porém, tudo mudaria nessa corrida por um pequeno
fator que se tornou primordial.
Prost teve problemas e teve que largar
de último, enquanto Lauda saiu de oitavo. Ambos deram um show nesse dia,
enquanto Lauda assumia a ponta e sumia com relação aos seus concorrentes, o
francês ultrapassou um a um e terminou em segundo lugar. Com certeza todos da
equipe ficaram muito contentes, pois ali se teve a certeza de que o ano seria
da equipe inglesa.(Derek Warwick, da Renault, chegou uma volta atrás, em
terceiro)
Em Zolder a vitória ficou com Michele
Alboreto, da Ferrari, e foi uma vitória que deixou todos espantados, pois a
equipe italiana tinha começado o campeonato de uma maneira muito esquisita, e o
carro claramente não tinha a mesma combatividade do ano anterior. Isso, somado
ao fato de que a corrida seguinte seria em Imola, deixou os “tifose” malucos da
vida.
Pena que no caminho tinha uma Mclaren,
que venceu em Imola, com Prost. Sobrou “saudar” o segundo colocado, o também
francês René Arnoux, que era muito “amigo” de Prost, diga-se de passagem. Lauda
abandonou. “E Alboreto?” pergunta você, amigo leitor. Largou em décimo terceiro
e abandonou na volta 23.
Com isso, o campeonato apresentava a
seguinte situação de pontos.
Prost tinha 24 pontos, com Warwick
tendo 13 pontos. Lauda vinha com 9 pontos empatado com Alboreto, na quinta
posição.
A prova seguinte foi na França, este
ano disputada em Dijon, um circuito curto, estreito, de curvas longas e de alta
velocidade, era perfeito para Prost vencer, conseguir mais um triunfo na sua
casa, porém...
... Lauda venceu, sendo que a sua
última vitória em terreno francês foi em 1975, e pode-se dizer que essa corrida
marcou o nascimento do austríaco para conquistar o tri-campeonato. E olha que o
rapaz largou em nono. Era uma característica de Niki, largar no meio do grid e
vir escalando o pelotão, me fez lembrar um certo americano baixinho, feio, que
em 1994 teve um canhão nas mãos na Indy e que não deu chance a ninguém... mas
isso é outra história! ;)
De quinto, Niki pulou para vice líder
no campeonato, com 18 pontos. Prost teve uma prova ruim, com problemas, e
terminou em sétimo lugar, ou seja, manteve seus 24 pontos.
Próxima prova... Monaco.
Sim, meus caros, Monaco 1984, para
muitos (e para mim também), uma das provas onde um piloto (ou mais de um) mais
se sobressaiu com relação aos outros – falo de Senna e Belloff, mas eles não os
meus alvos, não hoje, ficam para um outro dia, principalmente o alemão.
A corrida foi marcada pela politicagem
na categoria, apesar de eu concordar que sim, a chuva tinha apertado um bocado
quando a prova foi paralisada, mas também devo lembrar que não era um circuito
permanente, e sim Monaco. Prost venceu aquela corrida que ficaria marcada de
maneira amarga na sua vida para sempre, pois como não completou os 75% da
corrida (o que teria acontecido se a prova tivesse andado mais duas, três
voltas), os pontos foram dados pela metade, ou seja, Prost faturou 4,5 pontos
(quatro pontos e meio), Senna, três, Arnoux dois, Rosberg 1,5 (um e meio), de
Angelis um e com meio ponto, Alboreto. Lauda rodou no Cassino e abandonou.
O campeonato seguiu indo para o Canadá,
circuito Gilles Villeneuve, e outro piloto dava a entender que poderia brigar
pelo campeonato. Nelson Piquet conseguiu fazer a pole position e venceu a
prova, com Lauda chegando pouco mais de dois segundos atrás, Prost em terceiro.
Piquet teve um ano difícil, o carro era
muito bom, digo que em termos de carro em, era tão bom quanto a McLaren, mas o
motor BMW era frágil demais e quebrava uma corrida atrás da outra, o que
prejudicou muito o campeonato do atual bicampeão. O que espantou, em
contrapartida, foi o fato de que, se o carro quebrava muito, em classificação
era imbatível, pois o brasileiro cravou NOVE poles. No caso, nos circuitos de
Kyalami, Imola, Montreal, Detroit, Brands Hatch, Österreichring, Monza, Nurburgring e no Estoril.
E já digo: Piquet venceu a segunda
seguida em Detroit, dando muita esperança de que realmente o tri viria, mas não
passou disso – depois as quebras voltaram e Piquet não conseguiu mais vencer,
mas ainda conseguiu um segundo na Áustria, um terceiro em Brands Hacth e
terminar em sexto no Estoril, conseguindo assim terminar o campeonato com 29
pontos, na quinta posição.
Voltando à disputa do título, Prost
terminou em quarto e Lauda abandonou. Isso quer dizer que Prost tinha 34,5
pontos e Lauda 24. De Angelis era o terceiro com 19 pontos, em um esplêndido
campeonato, terminando as provas sempre nos pontos.
Outra prova que merece destaque no ano
de 1984 é a de Dallas. Pela primeira vez a categoria pisava em solo texano, o
que carinhosamente é conhecido como “um outro país dentro dos Estados Unidos”.
A prova era aguardada, pois se sabia-se que seria uma maratona de muitíssimo
calor, e assim foi durante todo o fim de semana, mas o grande detalhe foi o que
aconteceu domingo de manhã.
Os organizadores da corrida tiveram que
correr contra o tempo, pois simplesmente os remendos que já tinham sido
colocados estavam se soltando, tiveram que se apressar, o asfalto começava a se
soltar em determinados pontos do circuito, ajudado pelas provas preliminares.
Após uma verdadeira maratona, com quase
duas horas de corrida disputada sob um calor digno de faraó por a língua pra fora,
Keke Rosberg conseguiu vencer, mais do que isso, conseguiu terminar a corrida.
A corrida em si foi tão absurda que as
duas McLaren abandonaram, o asfalto se soltou na curva mais lenta do circuito,
e o Ghinzani, de Osella, me terminou em quinto lugar. Não preciso nem dizer que
o Tio Bernie nunca mais levou a F1 ao Texas, até Austin, em 2012.
O belíssimo circuito de Brands Hatch
sediou a décima etapa, com vitória de Lauda, Warwick em segundo e Senna em
terceiro lugar. Prost abandonou com problemas de câmbio na volta 37. E pela
primeira vez o campeonato colocou os dois pilotos da McLaren em uma situação de
combate de fato na tabela de classificação.
Prost 34 x Lauda 33,5
O Grande Prêmio de número 400 da
história da F1 foi no sensacional circuito de Österreichring,
onde já foi dito aqui que Nelson Piquet fez a pole, e na volta 28, vinha sendo
perseguido por Prost, que acabou rodando e batendo. Isso abriu caminho para
Lauda conquistar a sua vigésima terceira vitória na categoria, sendo a primeira
na sua casa, o que foi muito especial!
Agora Lauda marcava 48 pontos, contra
43,5 de Prost, sendo que o campeonato estava na reta final, já que a prova
austríaca foi a décima segunda de dezesseis no campeonato.
A prova seguinte foi na Holanda, em
Zandvoort, um circuito esquisito, com uma rela longa, uma primeira curva
fechada e um trecho de subidas e descidas. Sem contar que era tido como o
autódromo mais mal cuidado do cenário da categoria, e ainda com o fato de ser
ao lado do mar e com areia que era habitual no asfalto.
Apesar dos últimos resultados não
favoráveis e o fantasma de Vas... vice de novo, Prost não queria se entregar e
venceu na Holanda de maneira autoritária!
A McLaren venceu o campeonato de
construtores, pois além da vitória de Prost, Lauda foi o segundo colocado,
garantido assim, com três provas de antecedência, o caneco de campeã de
equipes.
Sempre dramático, o mítico circuito de
Monza protagonizou uma das corridas mais tensas do ano. A vitória
foi de Lauda, Prost teve problemas no começo e abandonou, Lauda veio de trás
(como sempre) e. perto do final, assumiu a ponta. Os italianos tiveram
esperanças, pois Alboreto correu bem e Teo Fabi estava possuído, até abandonar
a corrida. Alboreto terminou em segundo e Riccardo Patrese, da Alfa Romeo,
terminou em terceiro. (Imaginem o que teria sido se Lauda tivesse
abandonado...)
Lauda chegou a incríveis 63 pontos,
enquanto Prost tinha 52,5. Ou seja, bastava Lauda “cozinhar o Frango” e estava
tudo tranqüilo para o tri!
Durante a fase final do campeonato, foi
perguntado a Prost e a Lauda porque deveriam ser os campeões.
Prost disse que já tinha sido vice duas
vezes e não queria de jeito nenhum ser vice de novo.
Lauda foi direto, disse que merecia
mais do que qualquer um, por estar desenvolvendo este carro desde 1982.
A disputa parecia resolvida, faltavam
duas provas, a diferença era de 10,5 pontos e 18 estavam em jogo, mas aí veio
um GP da Europa em Nurburgring, que retornava à F1 depois do acidente horroroso
do Lauda em 1976.
Pole de Piquet, com Prost em segundo e
Lauda em “DÉ-CI-MO QUIN-TO”. A sensação era de que o campeonato não tinha
acabado, principalmente depois da qualificação. Prost tinha que lutar pela
vitória e apenas pensar na vitória. Lauda tinha que melhorar, precisava ganhar
posições e terminar nos pontos.
Resultado... Prost venceu e Lauda
chegou em quarto.
Inacreditável!
A prova marcou uma das cenas mais
engraçadas e bacanas da história da categoria. Como era comum antigamente, os
carros tinham que vir com cautela durante a corrida, ou o piloto ficava a pé.
Como era um circuito novo na categoria, não se tinha dados muito precisos,
então, alguns carros ficaram sem gasolina no final da prova, entre eles,Michele
Alboreto, que cruzou em segundo e Nelson Piquet, que foi o terceiro,terminaram
a prova juntos, sem combustível, a cena é tão inusitada que a reação dos dois
foi sensacional!
Vídeo aqui!
Com isso, a configuração do campeonato
para a última etapa do ano, no Estoril, trazia Lauda com 66 pontos e Prost com
62,5, três pontos e meio a diferença, que era de dez e meio antes da corrida,
ou seja, Prost tinha chance de acabar com a sua sina de Vasc... ops, de
Porte... ops, de vice.
O circuito do Estoril estreou na F1 e
foi muito elogiado por todos, com um belo traçado com curvas de média e baixa
velocidade, era ideal para travar bons duelos, e foi o que se viu no Estoril,
uma corrida boa, com bons pegas!
Para o campeonato, restava a Prost
vencer a corrida e Lauda ter algum problema, pois se sabia, que mesmo largando
em décimo primeiro, Lauda viria como sempre veio o ano inteiro, uma prova
calma, vindo de trás, se aproveitando dos problemas e ultrapassando na hora
certa.
Prost saiu em segundo e venceu a prova,
Lauda saiu em décimo primeiro e terminou em segundo, logo, se tornou campeão
por 0,5 (meio ponto). Nitidamente, quando assumiu o segundo lugar, o austríaco
segurou a onda, passando a virar o suficiente para garantir o título.
A superioridade da McLaren foi tão
grande em 1984, que o Elio de Angelis, terceiro colocado no campeonato, fez 34
pontos. A situação fica ainda mais assustadora na tabela de construtores.
McLaren – 143,5 pontos
Ferrari – 57,5 pontos
Minha opinião.
Lauda fez um campeonato perfeito, mesmo
não começando bem, apesar da vitória em Kyalami, teve problemas, mas quando
engrenou, mostrou toda a sua sabedoria, frieza e destreza para fazer pontos
importantíssimos e assumir a ponta no campeonato para não perder mais, na
Austria.
Para Prost deve ter sido especial ter
tido Lauda como companheiro, pois deve ter aprendido demais. Basta ver como foi
o campeonato de 1986, onde visivelmente era um Prost diferente do de 1983, que
era muito veloz, mas que não pensava muito em terminar nos pontos, o oposto do
que se viu em 86.
Para a McLaren, foi um ano dos sonhos,
pois das dezesseis provas do campeonato, levou doze, Prost com sete e Lauda com
cinco triunfos, tendo feito também fez três poles, todas com Prost, durante o
ano.
Em voltas mais rápidas, foram seis,
divididas igualmente entre os dois, ou seja, três para cada.
Foi um belíssimo campeonato. Apesar do
domínio da McLaren, foi um campeonato muito bacana, com variações, muitas
quebras, muitas disputas e pilotos tendo destaques durante o ano, como Senna,
Belloff, Stefan Johansson, Surer, Boutsen, entre outros, mas optei
por citar pilotos novos ou relativamente novos que pilotaram em equipes
menores. Sem esquecer a vitória de Rosberg em Dallas, as poles de Piquet, suas
duas vitórias e seus bons desempenhos (quando seu carro permitiu). Alboreto,
que conseguiu andar à frente de Arnoux e conseguiu bons resultados com um carro
que não era uma maravilha. Em declínio, a Renault não deu um carro à altura do
ano anterior e não permitiu que Derek Warwick fizesse muito mais do que
conseguiu, mas ainda assim conseguiu bons resultados. O mesmo vale pra Lotus e
De Angelis, mas com relação a 83, melhorou muito; ainda não foi um carro
campeão, mas permitiu ser o “melhor do resto”.
Se chegou até aqui, parabéns! Sei que a
coluna não é de um jornalista profissional, mas sim de um amante da velocidade.
Agora o “título” da coluna. Decidi por
o nome de Lauda, pois, para mim, pude finalmente compreender a razão de Lauda
ser tão idolatrado, a ponto do Galvão Bueno dizer “caminha para ser o
MAIOR DE TODOS OS TEMPOS”, fora os elogios rasgados que foram feitos
durante a temporada a este verdadeiro gênio, a este verdadeiro herói da vida.
Fora o que ele fez antes e claro, em 76 que virou o belo “Rush”, que já vi umas
cinco vezes, e em TODAS, me emociono, principalmente com o final, que no cinema,
me fez ir ás lágrimas.
É isso, quero agradecer a todos que
puderem ler, dedicar um pouco de seu tempo a esta humilde coluna, quero
agradecer à equipe pelo espaço e, quem sabe, virá mais.
Um abraço, fiquem com Deus e até mais.
PS: De bônus, vai aqui uma entrevista
da revista Veja a Niki Lauda em 1984.
https://f1gps.wordpress.com/2011/03/07/niki-lauda-1984/
PS2: Vou deixar um gostinho aqui!
Perto da largada, fica em português!
Gp de Dallas
O belíssimo Gp de Áustria! (Perto da largada passa para áudio da Globo)
Etapa final, no Estoril!
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